sexta-feira, 19 de junho de 2009

Ana Karênina


"Ana respirou outra vez a plenos pulmões o ar frio,e,já com a mão na portinhola do compartimento ,de novo se preparava para embarcar quando um homem de capote militar se aproximou,ocultando a luz do farol.Ana observou-o e reconheceu Vronski.Este levou a mão ao barrete,inclinou-se e perguntou-lhe se lhe podia ser útil em alguma coisa.Ana olhou-o um momento sem responder.Embora ele estivesse de costas para a luz,julgou ver-lhe nos olhos e na fisionomia a expressão de respeitoso entusiasmo que tanto a impressionara na véspera.Acabava de dizer para si mesma,depois de o repetir tantas e tantas vezes naqueles últimos dias,que Vronski,para ela,era um rapaz como outro qualquer que encontrava por todos os lados na sociedade,e em quem nunca permitiria pensar,e eis que, de repente,ao vê-lo,apoderavam-se dela a alegria e o orgulho.
Não precisava de lhe perguntar por que estava ali.Estava ali,sabia-o com toda a certeza,como se lho tivesse dito,evidentemente para se encontrar com ela.
_Não sabia que tinha de ir a São Petersburgo! Que vai fazer lá? - perguntou Ana, deixando descair a mão, que se firmara já no varão da portinhola.
A animação e a alegria,uma animação e uma alegria indizíveis,resplandeciam-lhe no rosto.
_Que vou fazer lá? - repetiu Vronski, fitando-a nos olhos.-Bem sabe que vou para estar junto da senhora.Não posso fazer outra coisa."

(diálogo entre Ana Karênina e Vronski -do romance Ana Karênina(1873/77 )-Leon Tolstoi)

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