sábado, 24 de janeiro de 2015

Nicolau e Alexandra - O Relato Clássico da Queda da Dinastia Romanov - Robert K. Massie


" As cartas da imperatriz para o czar nunca foram dirigidas a outros olhos que não os dele. Ao todo, foram encontradas 630 cartas numa mala de couro preto em Ekaterinburg após sua morte. Destas, 230 foram escritas no período desde seu primeiro encontro até estourar a guerra , em 1914. As outras 400 foram escritas durante os anos de guerra, 1914 - 1916. Foram escritas sem a mínima ideia de que alguém mais fosse lê-las, e muito menos que um dia viriam a ser publicadas como documentos históricos fundamentais para explicar eventos, personalidades e decisões às vésperas da Revolução Russa. Hoje, elas oferecem isso e até mais: uma janela íntima para uma alma , o retrato único de uma mulher que nenhum de seus contemporâneos na Rússia jamais poderia ver.
Alexandra escrevia profusamente . Ela podia começar de manhã cedo, acrescentar parágrafos durante o dia, continuar com páginas e páginas tarde da noite e talvez até mais no dia seguinte. numa letra grande, redonda, ela escrevia ao czar em inglês , no mesmo telegráfico que usava com seus amigos: uma prosa ofegante, com ortografia irregular , muitas abreviações , frequentes omissões de palavras que pareciam óbvias e pontuação com muitos pontos e travessões. Tanto a extensão quanto o estilo de suas cartas são infelizes.
 Com muitas omissões e saltos, ela dá a impressão de superficialidade em temas que na verdade a preocupavam muito. Da mesma forma, o intenso fervor de outras passagens é forte evidência das grandes paixões de que Alexandra era capaz, mas não prova suficiente de que a imperatriz- como alguns a acusaram - era louca. A própria extensão das cartas tornava difícil sua interpretação para historiadores e biógrafos. Ler todas é tarefa árdua e impossível citar mais do que uma minúscula fração delas. Contudo, e de forma extraordinária nesse caso, os excertos podem ser enganadores. Um pensamento cuja germinação se estende por sentenças - talvez parágrafos - surge inopinadamente com força total numa frase dura e condenatória. Essas frases, pinçadas da massa de verbosidade, fazem uma mulher loquaz parecer inequivocamente histérica.
 Um aspecto notável dessas cartas era o frescor do amor de Alexandra. Após duas décadas de casamento, ela ainda escrevia como uma garotinha. A imperatriz, tão tímida e até fria ao expressar emoções em público, soltava nas cartas toda sua paixão amorosa. Por baixo da reservada superfície vitoriana, ela revelava os sentimentos floridos, extravagantes dos poetas da época.
 Geralmente, as cartas chegavam com lírios ou violetas imprensados entre as páginas e começavam com "Bom-dia, meu querido...Meu amado...Meu doce tesouro...Meu anjo muito amado." Terminavam com "Durma bem meu tesouro...Anseio por tê-lo em meus braços e repousar a cabeça no seu ombro...Anseio por seus beijos, seus braços , que o tímido Childy ( Nicolau ) me dá
(somente) no escuro e esposinha vive por eles."
(...)
Embora sua linguagem tivesse o ardor transbordante do amor da juventude, Alexandra não se iludia com a passagem do tempo: "32 anos atrás , meu coração de menina se atirou a você em profundo amor...Sei que não devia dizer isso, e para uma madura mulher casada pode parecer ridículo, mas não consigo evitar. Com os anos, o amor aumenta e o tempo sem a sua  doce presença é duro de aguentar. Oh, que nossos filhos tenham a mesma bênção em suas vidas de casados."

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Raul Taburin - Sempé


" Numa noite em que dava uma garibada num descarrilhador, Figure chegou, depois de dois meses de ausência. Eles ficaram um momento em silêncio.
E, logo que o fotógrafo abriu a boca, Taburin o interrompeu de supetão:
"Sou eu quem falo agora! É preciso que você saiba: eu nunca soube...nunca...eu deveria ter dito...é um segredo...entende?...sou incapaz de..."
De repente, ele se sentiu de bom humor, com vontade de rir. E ria:
"Não sei andar ...é mesmo engraçado! eu não sei andar de..." E ele ria cada vez mais, e Figure também ria, porque começava a entender."

O céu Não sabe Dançar sozinho - Ondjaki


"sua,noite.entre os teus dedos o meu corpo existe para celebrar o amor. empurro a palavra madrugada e é doce essa tarefa. pronuncio palavras ao teu ouvido. palavras que o esquecimento acolhe no seu regaço, palavras para reprogramar o teu sentir . que a travessia aconteça . que os camelos paralelos a nós possam transportar água suficiente e o sol nos seja brando . que o vento não anule as peugadas das rãs.
de tempos a tempos necessitarei desse mapa."