domingo, 13 de outubro de 2013

Cordilheira - Daniel Galera



"Minha mãe foi meu primeiro personagem. Ao mesmo tempo, a leitura dedicada da biblioteca deixada por ela fez despertar meu gosto pela literatura e, quando eu já tinha uns dezesseis ou dezessete anos, meu interesse pela escrita. Até que ali pelos vinte anos comecei a escrever um romance que era um pouco sobre mim, um pouco sobre a minha mãe como eu a imaginava e outro tanto sobre ninguém em especial, apenas uma tentativa de afirmar que eu podia criar por conta própria o tipo de ficção que tinha um papel tão importante na minha vida , o tipo de ficção que havia encantado uma mãe e uma filha e criado um vínculo entre elas , mesmo que ambas jamais tivessem respirado simultaneamente sobre a terra."

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Até O Dia Em Que O Cão Morreu - Daniel Galera


"Churras!, ela disse com aquela voz de mongolóide que se usa com crianças e animais de estimação. O cão se aproximou e ela ficou afagando sua cabeça. A situação ia contra a indiferença com que os dois normalmente se tratavam, ela e o cachorro. Eu conhecia bem aquele bicho. Enquanto era acariciado, ele me olhava como se quisesse me fazer entender que se oferecia aos carinhos dela de propósito , que estava abrindo uma exceção. Pode ter sido só impressão minha, mas não importa, essa ideia fez minha garganta contrair e meus olhos ficarem cheios de lágrimas que, por sorte, não se acumularam o suficiente pra escorrer bochechas abaixo.
Não gosto de chorar. Tentei me controlar, e consegui. Assim que se libertou das mãos dela, o cão me olhou uma última vez e voltou apressado pra sala."