quarta-feira, 8 de março de 2017

Penumbras - Uwe Timm











"Também a sepultura de Marga havia sido revolvida por granadas nas batalhas de 1945, a lápide fora estilhaçada. Mas eu sabia onde podia encontrá-la, disse o cinzento. Aqui. E assim pude investigar sua história.

No dia 30 de maio, quatro horas da tarde, o médico das forças francesas encaminhou a autópsia oficial em minha presença. O cadáver estava bem conservado, a entrada e a saída dos tiros podiam ser claramente reconhecidas. A entrada de ambos era envolvida por uma borda de pólvora enegrecida e mostrava diâmetro de 9mm.
Com a inserção de sondas, os canais abertos pelos tiros foram claramente demonstrados. O indicador direito mostrava uma região de sangue coagulado. De resto, o corpo não tinha nenhum tipo de ferimento. O rosto mostrava uma expressão calma e tranquila. O cadáver ainda estava vestido nas roupas de piloto, com as quais a Srta. von Etzdorf havia entrado em seu quarto. Uma vez que as circunstâncias eram claras, eu dispensei a abertura do crânio.

(...)

Ela queria ser a primeira. Ela queria ir para lugares onde nenhum homem havia estado antes. Onde havia algo a descobrir, algo que ainda não havia sido investigado centenas de vezes. O novo, em que a gente se descobre de novo.Onde ela mesma se descobriria, correndo riscos e passando por necessidades, para assim mergulhar em seu interior como jamais fizera antes, penetrar no estranho, no estranho total, justamente através do susto e do espanto. Isso, diz o cinzento, é o que eu admiro nessa mulher."