quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Os Transparentes - Ondjaki


" O Cego sentia saudades das cores, de todas as cores
   isso de algum dia ter visto o mundo era uma lembrança  confusa - neblina de um sonho recentemente esquecido -, sentia dentro de si uma sólida saudade das cores , sabia imaginá-las , a quentura de um amarelo avermelhado , a tranquilidade de um azul céu, o rosa fresco da parte interna de um mamão, a brandura de um verde seco e até mesmo a simplicidade implacável do branco
_NganaZambi podia ainda me emprestar uma luz, e vez em quando só, nem que eu sempre tivesse a fingir que era ainda cego
_ está a falar mesmo sozinho, camarada Cego? - disse MariaComForça com simpatia na voz
_estava aqui com um pensamento , a senhora me escutou?
_nem entendi nada mesmo
_não era de entender, eu estava a lembrar cores
_então você já viu as cores
_sabe, as cores não são só de ver. há cores que eu sei na minha pele, nas minhas mãos. a vida tem muitos lugares..."