quarta-feira, 14 de maio de 2014

O Oceano no Fim do Caminho - Neil Gaiman


"_ Nada, nunca é igual (...) .Seja um segundo mais tarde ou cem anos depois. Tudo está sempre se agitando e se revolvendo. E as pessoas mudam tanto quanto os oceanos."

Saga - A história de quatro gerações de uma família japonesa no Brasil - Inoue Ryoki



" Desde o início da guerra no Pacífico , as notícias que chegavam do Japão, já bastante manipuladas pelos americanos , eram em parte distorcidas pela censura getulista e em parte pelos redatores dos principais jornais da colônia japonesa no Brasil. Nestes, as boas notícias - para os Aliados - eram publicadas em pequenas notas, e as que davam conta de uma vitória nipônica viravam manchetes em que, subliminarmente era possível notar o famoso yamato damashii ,o espírito japonês , que inclui a veneração pelo imperador e a consciência da absoluta invencibilidade do Japão.
Desde o ataque a Pearl Harbour , houve uma cisão na colônia japonesa no Brasil. De um lado, estavam os kachigumis , que acreditavam na vitória do Japão e, do outro lado, os makegumis , que não acreditavam nela ou simplesmente não se incomodavam com a vitória ou derrota de seu país de origem , tendo efetivamente assumido o Brasil como pátria. Essa divisão de opiniões , que, no início , limitava-se ás discussões e apenas eventualmente gerava alguma briga , tornou-se muito mais séria a partir de 1944, com a criação da Shindô-Renmei ( Liga dos Seguidores do Imperador ), e, depois a rendição japonesa , transformou-se em violência declarada dos kachigumis contra os makegumis.
Com sede no número 96 da Rua Pacatu, no Jabaquara, em São Paulo, a Shindô-Renmei atuou com muita intensidade inclusive no interior de São Paulo e do Paraná, criando 64 filiais nesses dois Estados, com um total de 30 mil sócios registrados e mais de 100 mil imigrantes e descendentes que apoiavam a manutenção a qualquer custo do  yamato damashii.
Era uma organização rica, pois doações não faltavam, e, com esses recursos , conseguiu montar uma infra-estrutura de divulgação bastante forte, incluindo pelo menos um grande jornal a colônia.
Porém a atuação da Shindô-Renmei , que teoricamente deveria estar limitada à preservação do lado cultural e tradicional do yamato damashii , foi focada numa terrível operação de limpeza, que incluía atos terroristas , atentados e até mesmo o assassinato de muitos makegumis.
Um dos fatores preponderantes para essa distorção de objetivos foi a forte presença de ex-militares japoneses entre os imigrantes nipônicos que vieram para o Brasil entre 1928 e 1933. Muitos deles vieram para cá tendo como missão exatamente criar nos países onde a colônia japonesa começava a ser significativa , tanto do ponto demográfico como do econômico , núcleos de resistência à dominação política e cultural do Ocidente. Tornaram-se membros da Shindô-Renmei e passaram a divulgar o yamato damashii literalmente impondo suas ideias ainda que de forma violenta. O líder da associação era Junji Kikawa, ex-oficial do Exército Imperial Nipônico e seguidor fanático da divindade representada pelo imperador Hirohito.
Nos meses que antecederam a rendição nipônica , os principais membros da Shindô-Renmei elaboraram uma lista dos makegumis que deveriam ser eliminados pelos integrantes da Tokko-tai , grupo-ação da organização. Essa relação era composta por centenas de isseis e nisseis que, na opinião de Kikawa e seus conselheiros , de alguma forma manifestavam-se a favor dos Aliados, mesmo que não militassem contra o imperador.
A Shindô-Renmei iniciou sua ação contra os makegumis com atentados terroristas contra as propriedades daqueles que, segundo Kikawa, estavam ajudando os americanos e, portanto, posicionando-se contra o Japão. Entre eles figuravam principalmente os produtores de seda - matéria-prima para a fabricação de pára-quedas - e os plantadores de menta, de onde era extraído um importante aditivo para o combustível dos aviões.
Em 07 de março de 1946, o primeiro makegumi da lista negra, a lista dos que deveriam morrer , Ikuta Mizobe, foi assassinado na cidade de Bastos, interior de São Paulo, por Satoru Yamamoto. A partir daí, 23 makegumis foram mortos e dezenas tiveram suas propriedades atingidas por atentados."