quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Reflexões Sobre Um Século Esquecido - Tony Judt





"As estradas de ferro são um serviço público. Por isso os franceses investem pesadamente no setor ( assim como alemães, italianos e espanhóis ). Tratam o imenso subsídio dado ao sistema ferroviário como um investimento na economia local e nacional, bem como em ambiente , saúde, turismo e mobilidade social. Para alguns observadores ingleses e também uns poucos críticos franceses , esses subsídios representam perdas enormes inaceitáveis - difíceis de quantificar, pois estão escondidas nas contas públicas. Mas eles causam um impacto significativo no orçamento nacional. A maioria dos franceses não vê o caso assim, porém : para eles as ferrovias não são um negócio, e sim um serviço que o Estado proporciona aos cidadãos, pago pela coletividade. Um determinado trem, rota ou estação pode não dar lucro, mas o prejuízo é compensado por benefícios indiretos que equilibram a conta. Tratar trens como empresa que pode ser melhor admnistrada por empresários cujos acionistas esperam retorno em dinheiro para seu investimento significa incompreensão de sua verdadeira natureza."

" Os belgas, portanto, podem ser perdoados por um certo  grau de incerteza quanto a sua identidade nacional. O Estado nascido na conferência de Londres, em janeiro de 1831, foi retirado do domínio holandês, ganhou um novo rei, inventado na Alemanha , uma constituição inspirada na francesa de 1791, e um novo nome. Embora o termo "Bélgica" tenha raízes antigas ( o cronista Jean de Guise, no século XII, o atribuía a um monarca lendário, "Belgus", de origem troiana ), a maioria dos habitantes da região identifica-se apenas com sua comunidade local.
Na verdade, a lealdade urbana ou comunal estava no centro daquilo que distingue o lugar de qualquer outro. Desde o século XIII as cidades flamengas se uniam para lutar contra as exigências fiscais e territoriais de nobres, reis e imperadores. Até hoje a Bélgica é o único país da Europa no qual a identificação da localidade imediata atroplea a filiação regional ou nacional na imaginação popular."