sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

A Borra do Café - Mario Benedetti


" Só numa ocasião a praia Capurro, em geral tão desprezada , ficou cheia de gente e de bicicletas. Foi quando o dirigível passou por aqui. O Graf Zeppelin. Aquela espécie de liguiçona prateada, imóvel no espaço, foi considerada admirável, quase mágica por todo o mundo adulto; para nós, em compensação, era uma coisa normal. Mais ainda: o assombro dos adultos nos parecia bobo. Vê-los todos de boca aberta, olhando para cima, provocava em nós um riso tão contagioso que aos poucos foi se transformando na gargalhada de toda uma geração. Os pais , tios e avós sentiram-se tão ofendidos com as risadas que os tapas e beliscões começaram a chover sobre as nossas frágeis anatomias. Uma injustiça histórica que jamais vamos esquecer."

(  trecho do capítulo "O dirigível e o Dândi )

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