sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

O Mínimo e o Escondido - Crônicas de Machado de Assis


"Daquelas conversações tranquilas , algumas longas, estão mortos quase todos os interlocutores , Liais, Fernandes Pinheiro, Macedo, Joaquim Norberto, José de Alencar, só para indicar estes. De resto, a livraria era um ponto de conversação e de encontro. Pouco me dei com Macedo, o mais popular dos nossos autores, pela Moreninha e pelo Fantasma Branco, romance e comédia que fizeram as delícias de uma geração inteira . Com José de Alencar foi diferente ; ali travamos nossas relações literárias. Sentados os dois, em frente à rua, quantas vezes tratamos daqueles negócios de arte e poesia, de estilo e imaginação, que valem todas as canseiras desse mundo. Muitos outros iam ao mesmo ponto da palestra. Não os cito, porque teria de renomear um cemitério, e os cemitérios são tristes, não em si mesmos, ao contrário. Quando outro dia fui a enterrar o nosso velho livreiro, vi entrar no de S. João Batista, já acabada a cerimônia e o trabalho, um bando de crianças que iam divertir-se . Iam alegres como quem não pisa memórias nem saudades. As figuras sepulcrais eram , para elas , lindas bonecas de pedra; todos esses mármores faziam um mundo único, sem embargo das suas flores mofinas, ou por elas mesmas, tal é a visão dos primeiros anos. Não citemos nomes."

( trecho da crônica Garnier do livro "O Mínimo e o Escondido - Crônicas de Machado de Assis" - Luiz Antonio Aguiar ( org.) - Editora Salesiana ).

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