quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

O Velho que acordou menino - Rubem Alves


"Eu era uma criança feliz. A infelicidade começa com a comparação. E eu não tinha com que comparar.  Bachelard observou que "a infância conhece a infelicidade através dos homens" ( A poética do devaneio, p.9 ). Ainda não havia aprendido com os adultos a arte maldita da comparação. Esperança é coisa de gente grande ,que vive no tempo, o passado, o presente, o futuro. Esperança é uma fantasia do futuro que alegra o presente. Criança não tem esperança. Não precisa. Se alegra no presente. Criança está fora do tempo. Mora na eternidade. Na eternidade não há tempo, não há passado, não há futuro, só o presente. Criança vive o momento. Eu só vivia o presente . Não tinha ansiedades. Meu irmão Ismael me contou que um dia a mãe lhe disse: "O que nos resta para viver são 800 mil-réis de um carro de bois que o seu pai vendeu...". Minha mãe e meu irmão estavam ansiosos pelo futuro. Eu não. Sem o saber vivia a sabedoria evangélica que dizia que é inútil se preocupar com o amanhã. Jesus sabia que a cura para nossas doideiras é ficar criança de novo."




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