quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Fernando Pessoa





" Não sei que diga. Pertenço à raça dos navegadores e dos criadores de impérios . Se falar como sou , não serei entendido, porque não tenho Portugueses que me escutem. Não falamos , eu e os que são meus compatriotas , uma linguagem comum . Calo. Falar seria não me compreenderem . Prefiro a incompreensão pelo silêncio."
( 1929 - 1930 )

" Quanto mais nos aprofundamos , com a vida , a própria sensibilidade , mais ironicamente nos conhecemos. Aos 20 anos eu cria no meu destino funesto; hoje conheço meu destino banal. Aos 20 anos sonhava com os Principados do Oriente ; hoje contentar-me-ia , sem pormenores e perguntas , com um final da vida tranquila aqui nos subúrbios , dono de uma tabacaria vagarosa.
O  pior que há para a sensibilidade é pensarmos nela , e não com ela. Enquanto me desconheci ridículo , pude ter sonhos em grande escala. Hoje que sei quem sou, só me restam sonhos que delibero ter."
( 1930 )

pág. 199

" Qualquer que seja o teu trabalho , põe individualidade nele , esforça-te por lhe pores  qualquer cousa de único , de diferente , de teu. Há aventuras até no fazer embrulhos . Há campo para a criação até na redacção de facturas. Lembra-te do Noronha. Ninguém podia passar pelas gargantas das Allegheny. Foi lá ter o Noronha.
Eras capaz de ir lá ter ? Não eras.Sê ao menos capaz de ir ter a um novo modo de redigir cartas , de dobrar circulares, de colar selos. Sê original em qualquer coisa. Vive . Sê gente ... Não te deixes ser igual aos outros , como se tivesses nascido carneiro."


( Fernando Pessoa - escritos autobiográficos e de reflexão pessoal )

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