terça-feira, 5 de junho de 2012

Avó Dezanove e o segredo do soviético - Ondjaki




"Sentado na varanda, eu gostava de fazer essa brincadeira de primeiro olhar as nuvens brancas a dançarem no céu empurradas pelo vento, na escola sempre ensinaram que o vento é invisivel , e até é , mas, sem querer parecer maluco tipo o Espuma do Mar, ás vezes eu acho que, pelo modo de as nuvens voarem, quase fica possível ver de onde vem o vento e sobretudo para onde ele quer ir. O vento não deve gostar de andar sozinho, se repararem bem, porque sempre quer levantar poeira , dobrar as árvores , soprar as folhas e arrastar as nuvens para longe. O vento deve ter uma casa no tão-longe e está sempre a tentar levar as nuvens para a casa dele, mas isso é uma coisa que eu penso sozinho sem contar a ninguém, porque outras crianças podem me chamar de chanfru e os mais-velhos podem querer me dar remédios para ver se fico bom da cabeça."


"Fomos devagarinho em direção à casa do SenhorTuarles, pai da Charlita, meio a sorrir, o camarada VendedorDeGasolina fazia aquilo quase todas as manhãs, preparava uma vassoura própria ,calçava umas botas de borracha , desenrolava uma mangueira , abria a torneira e não havia água .

- Que estranho, não há água na torneira - e voltava a arrumar tudo devagarinho.

Estranhos são os mais-velhos que fazem as coisas repetidas todos os dias apesar de saberem que há coisas que não mudam. Há quantos anos não havia água naquela bomba de gasolina?"


( um dos livros mais lindos que já li. Daqueles de serem lidos e relidos pra mergulhar nas palavras  do personagem que narra a história. Lindo ! )

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