segunda-feira, 18 de abril de 2011

Viagem - Graciliano Ramos


" Quando nos retiramos, seguiu-me  à porta do automóvel, despediu-se - e deu-me um beijo, que , naturalmente, retribuí. Mais tarde narrei o caso à sra. Nikolskaya, e comentei :
_ Para nós, brasileiros , essa história de um homem beijar outro é meio ridícula.
_ Aqui isso é raro, explicou-me a sra. Nikolskaya. Com o beijo, o homem quer dizer que entrega a sua alma inteiramente ao amigo."

( 6 - setembro -1952 )

" As duas  palavras me perseguiam : " Terra luminosa". Não me referia à luz que dourava as nódoas claras da pedra, jogava  cintilações no profundo azul das águas . De fato nem pensava na terra : pensava nos indivíduos, e parecia-me enxergar, além da beleza exterior, uma beleza interior. Essa luz brincava nos olhos das raparigas, na alegria serena dos velhos, no sorriso das crianças. Alterei a frase: "Almas luminosas".

( Buenos Aires - 5 - outubro- 1952 )

( trechos de Viagem -  livro póstumo de Graciliano Ramos onde relata sua viagem à antiga União Soviética, no começo da década de 1950 ).

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