terça-feira, 6 de julho de 2010

Lendo Lolita em Teerã - Azar Nafisi


" As ruas de Teerã e de outras cidades iranianas são patrulhadas pelas milícias que circulam em Toyotas brancos, quatro mulheres e homens armados, seguidos algumas vezes por um microônibus.Eles são chamados de Sangue de Deus.Eles patrulham as ruas para assegurar que as mulheres, como Sanaz, vistam seus véus adequadamente , não usem maquiagem , não caminhem em público com homens que não sejam seus pais, irmãos ou maridos. Ela passará por paredes pintadas com slogans, citações de Khomeini e de um grupo chamado o Partido de Deus: Homens que usam gravatas são lacaios dos Estados Unidos, o véu é a proteção da mulher. Ao lado do slogan existe o desenho de uma mulher a carvão : seu rosto não tem forma e é emoldurado por um chador escuro.Minha irmã, resguade o seu véu.Meu irmão, vigie os seus olhos.
Se  ela entrar num ônibus, o assento é segregado. Tem que subir pela porta de trás e procurar pelos bancos traseiros, alocados para as mulheres. Mas nos táxis, que aceitam até cinco passageiros, homens e mulheres podem viajar apertados como sardinhas, como diz o ditado, e o mesmo acontece nos microônibus, onde muitas das minhas alunas reclamam de ser importunadas por homens barbudos e tementes a Deus.
Fosse lá quem fôssemos -  e realmente não é importante a que religião pertencíamos, se queríamos usar o véu ou não, se observávamos certas normas religiosas ou não -, tornamo-nos a fantasia dos sonhos de outras pessoas.Um implacável aiatolá , um autoproclamado filósofo-rei, chegou para dominar nossa terra. Ele chegou em nome de um passado, passado que lhe havia sido roubado, afirmou. E agora ele queria nos recriar à imagem daquele passado ilusório. Serviria de consolo, ou gostaríamos de lembrar que o que ele nos fez foi o que permitimos que fizesse?"

( trecho de Lendo Lolita em Teerã - Azar Nafisi -  )

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