quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Na praia - Ian McEwan


"Quando pensava nela,parecia-lhe surpreendente que tivesse deixado aquela garota com seu violino ir embora.Agora,é claro,via que a proposta recatada que ela lhe fizera era totalmente irrelevante.Tudo aquilo que ela precisava era da certeza do amor dele,e da sua garantia de que não havia pressa,pois tinham a vida pela frente.Amor e paciência - se pelo menos ele tivesse conhecido ambos ao mesmo tempo - certamente os teriam ajudado a vencer as dificuldades.E que dizer das crianças que poderiam ter tido,e da menininha com um arco no cabelo que poderia ter se tornado sua filha querida?É assim que todo o curso de uma vida pode ser desviado - por não se fazer nada.Na praia de Chesil,ele poderia ter gritado o nome de Florence,poderia ter ido atrás dela.Ele não sabia,ou não teria querido saber,que,enquanto ela fugia,certa na sua dor de que o estava perdendo,nunca o amara tanto,ou mais desesperadamente,e que o som da voz dele teria sido seu resgate,e que ela teria voltado atrás.Em vez disso,ele permaneceu num silêncio frio e honrado,na penumbra do verão, a observá-la em sua precipitação ao longo da orla,o som do seu avanço difícil perdendo-se entre o das pequenas ondas a quebrar na praia,até ela ser apenas um ponto borrado,desaparecendo na estrada estreita e infinita de seixos brilhando sob a luz pálida."

( Na Praia - Ian McEwan )

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