"O reencontro deles foi tímido e comovido. Seus olhos brilhavam de felicidade, mas logo baixou pudicamente o olhar. Sentaram-se no meio das ervas. Acácio pastava tranquilo ali perto. As flores em volta perfumavam mais do que o habitual, e Baudolino sentia-se como se mal tivesse tocado o burq com os lábios. Não ousava falar, mas decidiu fazê-lo porque a intensidade daquele silêncio o levaria a algum gesto inconveniente.
Só então compreendeu por que ouvira dizer que os verdadeiros amantes, em seu primeiro colóquio de amor, empalidecem, tremem e emudecem. Isso porque o amor, ao dominar ambos os reinos da natureza e da alma, atrai para si todas as suas forças, não importa como se mova. Assim, quando os verdadeiros amantes, se reúnem, o amor perturba e quase petrifica todas as funções do corpo, tanto físicas como espirituais: razão pela qual a língua se recusa a falar, os olhos a ver, os ouvidos a ouvir, e cada membro subtrai-se ao próprio dever. Isso faz com que, quando o amor, demora-se muito no fundo do coração, o corpo, desprovido de força, morre. Mas numa certa altura o coração pela impaciência do ardor que vive, quase lança para fora de si a sua paixão, permitindo ao corpo retomar as próprias funções. Daí, o amante fala."
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