"Decorrido um segundo, em que moveu a cabeça como um cão que perdeu a pista, a que a lançou para trás, num gesto brusco, como em busca de ar e de luz, voltou-se para mim pálido de cólera, perplexo , olhando inutilmente para todos os lados e não encontrando nada, embora eu sentisse o aposento envenenado pela dominante e opressora presença.
- É ele ?
Eu estava tão decidida a obter todas as provas que, para desafiá-lo, simulei glacial tranquilidade:
_ A quem você se refere?
_ Peter Quint ! Ah, seu demônio !
Seu rosto dirigiu novamente, em torno do aposento, uma convulsa súplica:
_ Onde?
Tenho ainda em meus ouvidos o som daquele nome, proferido como uma rendição suprema, como um tributo à minha dedicação.
_Que importância tem ele agora, meu querido? Que importância poderá ter doravante? Eu tenho você - exclamei, dirigindo-me à fera - e ele perdeu para sempre!
E ajuntei, para demonstrar que cumprira a minha obra:
_ Ali, ali ! - exclamei, apontando a janela.
Mas Miles já havia escapado de meus braços e, voltando-se para o outro lado, ficou a fitar, perscrutadoramente , a janela, não vendo senão o dia tranquilo. Ante o golpe dessa perda, de que eu tanto me orgulhava, lançou um grito de criatura lançada sobre o abismo, e o gesto com que o segurei bem poderá ter sido o de agarrá-lo em sua queda. Agarrei-o,sim, apertei-o de encontro ao peito...e bem pode imaginar-se com que paixão! Mas, ao cabo de um minuto, comecei a sentir o que realmente estreitava em meus braços. Estávamos a sós no dia tranquilo, e o seu pequeno coração, despossuído, deixara de pulsar."
( Outra Volta do Parafuso - Henry James )
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