" Antes de qualquer pessoa , interrogaram Iákov, e ele fez ver que Matviei, na segunda-feira à tarde, partira para Vedeniápino a fim de jejuar antes de fazer a confissão, e que talvez serradores, que então trabalhavam na ferrovia, o tivessem matado. Quando o juiz de intrução lhe perguntou como se podia explicar o fato de Matviei ter sido encontrado no meio da estrada, se o seu chapéu estava em casa - seria possível que ele tivesse partido para Vedeniápino sem chapéu? E também por que motivo perto de Matviei, na estrada , sobre a neve , não encontraram nem um pingo de sangue,se ele tinha o crânio fraturado, além de ter o rosto e o peito enegrecidos de sangue. Iákov perturbou-se , confundiu-se e respondeu:
_ Não posso saber.
E aconteceu exatamente aquilo que Iákov temia: chegou o guarda, o policial pôs-se a fumar no oratório e Aglaia disparou pragas contra ele, disse desaforos para o comissário de polícia rural , e depois, quando conduziram Iákov e Aglaia para fora do pátio, os mujiques aglomeraram-se no portão e disseram:
_ Estão levando os beatos !- e todos pareciam contentes."
( trecho do conto "O Assassinato" da coletânea de contos do livro " Assassinato e outras histórias "- Anton Tchekhov )
" Da noite para o dia, tudo se acalmou. Quando se levantaram e olharam pela janela, os salgueiros desfolhados, com os galhos ligeiramente curvados para baixo, mantinham-se absolutamente imóveis, o tempo estava nublado, sereno, como se a natureza agora estivesse envergonhada de sua orgia, das loucuras da noite e das liberdades que havia concedido às suas paixões."
( trecho do conto "Em serviço" da coletânea de contos do livro " Assassinato e outras histórias" - Anton Tchekhov ).
se eu pudesse leria todos os livros que gosto pra ti, como não posso, escrevo as palavras encantadas que me encantaram.
quarta-feira, 28 de julho de 2010
sexta-feira, 23 de julho de 2010
Outra volta do parafuso - Henry James
"Decorrido um segundo, em que moveu a cabeça como um cão que perdeu a pista, a que a lançou para trás, num gesto brusco, como em busca de ar e de luz, voltou-se para mim pálido de cólera, perplexo , olhando inutilmente para todos os lados e não encontrando nada, embora eu sentisse o aposento envenenado pela dominante e opressora presença.
- É ele ?
Eu estava tão decidida a obter todas as provas que, para desafiá-lo, simulei glacial tranquilidade:
_ A quem você se refere?
_ Peter Quint ! Ah, seu demônio !
Seu rosto dirigiu novamente, em torno do aposento, uma convulsa súplica:
_ Onde?
Tenho ainda em meus ouvidos o som daquele nome, proferido como uma rendição suprema, como um tributo à minha dedicação.
_Que importância tem ele agora, meu querido? Que importância poderá ter doravante? Eu tenho você - exclamei, dirigindo-me à fera - e ele perdeu para sempre!
E ajuntei, para demonstrar que cumprira a minha obra:
_ Ali, ali ! - exclamei, apontando a janela.
Mas Miles já havia escapado de meus braços e, voltando-se para o outro lado, ficou a fitar, perscrutadoramente , a janela, não vendo senão o dia tranquilo. Ante o golpe dessa perda, de que eu tanto me orgulhava, lançou um grito de criatura lançada sobre o abismo, e o gesto com que o segurei bem poderá ter sido o de agarrá-lo em sua queda. Agarrei-o,sim, apertei-o de encontro ao peito...e bem pode imaginar-se com que paixão! Mas, ao cabo de um minuto, comecei a sentir o que realmente estreitava em meus braços. Estávamos a sós no dia tranquilo, e o seu pequeno coração, despossuído, deixara de pulsar."
( Outra Volta do Parafuso - Henry James )
- É ele ?
Eu estava tão decidida a obter todas as provas que, para desafiá-lo, simulei glacial tranquilidade:
_ A quem você se refere?
_ Peter Quint ! Ah, seu demônio !
Seu rosto dirigiu novamente, em torno do aposento, uma convulsa súplica:
_ Onde?
Tenho ainda em meus ouvidos o som daquele nome, proferido como uma rendição suprema, como um tributo à minha dedicação.
_Que importância tem ele agora, meu querido? Que importância poderá ter doravante? Eu tenho você - exclamei, dirigindo-me à fera - e ele perdeu para sempre!
E ajuntei, para demonstrar que cumprira a minha obra:
_ Ali, ali ! - exclamei, apontando a janela.
Mas Miles já havia escapado de meus braços e, voltando-se para o outro lado, ficou a fitar, perscrutadoramente , a janela, não vendo senão o dia tranquilo. Ante o golpe dessa perda, de que eu tanto me orgulhava, lançou um grito de criatura lançada sobre o abismo, e o gesto com que o segurei bem poderá ter sido o de agarrá-lo em sua queda. Agarrei-o,sim, apertei-o de encontro ao peito...e bem pode imaginar-se com que paixão! Mas, ao cabo de um minuto, comecei a sentir o que realmente estreitava em meus braços. Estávamos a sós no dia tranquilo, e o seu pequeno coração, despossuído, deixara de pulsar."
( Outra Volta do Parafuso - Henry James )
terça-feira, 20 de julho de 2010
Canalha! - Fabrício Carpinejar
"Pelo fato dela estar com namorado ou casada, não suporta que alguém esteja solteira.Quer exterminar as solteiras da cidade, pois não é suficiente casar; o mundo tem de casar junto com ela para não se arrepender ou questionar sua rotina."
"Amor encomendado nunca funcionou . Como fazer render um encontro em que expectativa mínima é a de namoro e a máxima é de um casamento? Amor surge ao léu, de imprevisto, sem nenhuma preparação psicológica e pesquisas de opinião. Não se passa por teste vocacional, o amor pode contrariar a carreira."
"É um drama rever quem se gostava comprometida.Seria sorte se apenas os cotovelos doessem - é todo o corpo.Toda a ausência do corpo dela no seu."
" Nasci de uma saudade longa de você.Estar com você é só aumentá-la.E nem quero adoecer de outra maneira. Se estar com você é apressar o fim, nunca estive tão à vontade longe de meu nascimento."
"Eu não consegui inventá-la, você desobedeceu o autor e sumiu com o final do livro. Eu não consegui inventá-la,podia apenas descobri-la.
Será que depois de morto ainda enfrentarei pesadelos?
Até que a morte nos separe é muito pouco para mim. Preciso de você por mais de uma vida."
" Se já sofremos quando não declaramos o que nos incomoda,sofreremos o dobro se não declararmos o que nos alegra.
Merecemos aprender a contar os dias em que estamos livres, ao invés de enumerar com uma cruz em que estamos presos."
" Já ouvi muito que sexo não é seguir a cabeça e deixar as coisas acontecerem. Sexo seria não pensar.Não concordo, sexo não é inconsequência, é consequência da gentileza. Consequência de ouvir o sussurro, de ser educado com o sussurro e permanecer sussurrando. Perder o pudor, não perder o respeito. Perder a timidez, não perder o cuidado.
Sexo é pensar, como que não?
E fazer o corpo entender a pronúncia mais do que compreender a palavra. Como se não houvesse outra chance de ser feliz.Não a derradeira chance, e sim a chance."
" Um amor atrasado não é amor. Um amor atrasado é amizade depois de um amor que não aconteceu."
( trechos do livro Canalha ! crônicas de Fabrício Carpinejar )
terça-feira, 6 de julho de 2010
Lendo Lolita em Teerã - Azar Nafisi
" As ruas de Teerã e de outras cidades iranianas são patrulhadas pelas milícias que circulam em Toyotas brancos, quatro mulheres e homens armados, seguidos algumas vezes por um microônibus.Eles são chamados de Sangue de Deus.Eles patrulham as ruas para assegurar que as mulheres, como Sanaz, vistam seus véus adequadamente , não usem maquiagem , não caminhem em público com homens que não sejam seus pais, irmãos ou maridos. Ela passará por paredes pintadas com slogans, citações de Khomeini e de um grupo chamado o Partido de Deus: Homens que usam gravatas são lacaios dos Estados Unidos, o véu é a proteção da mulher. Ao lado do slogan existe o desenho de uma mulher a carvão : seu rosto não tem forma e é emoldurado por um chador escuro.Minha irmã, resguade o seu véu.Meu irmão, vigie os seus olhos.
Se ela entrar num ônibus, o assento é segregado. Tem que subir pela porta de trás e procurar pelos bancos traseiros, alocados para as mulheres. Mas nos táxis, que aceitam até cinco passageiros, homens e mulheres podem viajar apertados como sardinhas, como diz o ditado, e o mesmo acontece nos microônibus, onde muitas das minhas alunas reclamam de ser importunadas por homens barbudos e tementes a Deus.
Fosse lá quem fôssemos - e realmente não é importante a que religião pertencíamos, se queríamos usar o véu ou não, se observávamos certas normas religiosas ou não -, tornamo-nos a fantasia dos sonhos de outras pessoas.Um implacável aiatolá , um autoproclamado filósofo-rei, chegou para dominar nossa terra. Ele chegou em nome de um passado, passado que lhe havia sido roubado, afirmou. E agora ele queria nos recriar à imagem daquele passado ilusório. Serviria de consolo, ou gostaríamos de lembrar que o que ele nos fez foi o que permitimos que fizesse?"
( trecho de Lendo Lolita em Teerã - Azar Nafisi - )
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