"Há a massa que é o conto, há a angústia e a ansiedade e a maravilha,porque as sensações e os sentimentos também se contradizem nesses momentos ,escrever um conto assim é simultaneamente terrível e maravilhoso,há um desespero exaltante,uma exaltação desesperada; é agora ou nunca,e o temor de que pode ser nunca exarceba o agora , faz dele máquina de escrever correndo a todo teclado , esquecimento da circunstância , abolição do circundante .Então a massa negra vai clareando à medida que se avança ,incrivelmente as coisas são de uma extrema facilidade como se o conto já estivesse escrito com uma tinta invisível e a gente lhe passasse um pincelzinho em cima para despertá-lo . Escrever um conto assim não dá nenhum trabalho, absolutamente nenhum; tudo aconteceu antes e esse antes que se deu num plano onde " a sinfonia se agita na profundeza", para dizer a Rimbaud, foi o que provocou a obsessão , o coágulo abominável a ser arrancado com safanões de palavras.E por isso, porque tudo está decidido numa região que diurnamente me é alheia ,nem sequer o arremate do conto apresenta problemas,sei que posso escrever sem interrupções ,vendo se apresentarem e se sucederem os episódios e que o desenlace está tão incluído no coágulo inicial quanto o ponto de partida."
( Do conto e seus arredores - Julio Cortazar - Último Round - Tomo I )
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