quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

MINHA LUTA 4 - UMA TEMPORADA NO ESCURO - KARL OVE KNAUSGARD


"Não vivemos nossa vida sozinhos, mas isso não quer dizer que vejamos as pessoas com quem vivemos. Quando meu pai se mudou para o norte da Noruega e deixou de ser para mim uma presença física, com um corpo e uma voz, um temperamento e um olhar, de certo modo ele sumiu da minha vida, no sentido de que foi reduzido a uma espécie de desconforto com o qual eu por vezes me defrontava, por exemplo quando ele me ligava ou alguma coisa fazia pensar nele, uma espécie de campo em mim que podia ser ativado, e nesse campo estavam todos os sentimentos que eu tinha em relação a ele, mas não ele próprio.
 Tempos depois eu li nos cadernos de anotações dele a respeito do Natal em que ele havia ligado das Ilhas Canárias e das semanas que se seguiram.
  Nesses cadernos o meu pai aparece como ele próprio, no meio da própria vida, e talvez por isso essa leitura seja tão dolorosa para mim, porque ele não apenas é muito mais do que os sentimentos que eu tinha em relação a ele, mas infinitamente mais, uma pessoa viva e completa no meio da vida".


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