"Quando percebeu, o sol era suave, a praia se despovoava, as ondas se encolhiam. Hora de ir,disse o pai e começou a apanhar as coisas. A família seguiu para a avenida, o menino lá atrás , a pele salgada e quente , os olhos resistiam em ir embora. No ônibus , sentou-se à janela, ainda queria ver a praia, atento à sua paixão. Mas, à frente, surgiam prédios, depois casas, prédios novamente, ele ia se diminuindo de mar. O embalo do ônibus, tão macio...Começou a sentir um torpor agradável , os braços doíam , as pernas pesavam, ele foi se aquietando, a cabeça encostada no vidro...
Então aconteceu, finalmente, o que ele tinha ido viver ali de maior. Despertou assustado, o cobrador o sacudia abruptamente , Ei, garoto,acorda! Acorda, garoto!, um zunzunzum de vozes, olhares, e ele sozinho no banco do ônibus , entre os caiçaras, procurando num misto de incredulidade e medo a mãe, o pai, o irmão - e nada. Eram só faces estranhas.
Levantou-se , rápido no seu desespero, Seus pais já desceram, o cobrador disse e tentou acalmá-lo, Desce no próximo ponto e volta! Mas o menino pegou a realidade às pressas e, afobado, se meteu nela de qualquer jeito. Náufrago, ele se via arrastado pelo instante, intuindo seu desdobramento : se não saltasse ali, se perderia na cidade aberta. Só precisava voltar ao raso, tão fundo, de sua vidinha...
Esgueirou-se entre os passageiros, empurrando-os com a prancha. O ônibus parou, aos trancos. O cobrador gritou, Desce, desce aí! O menino nem desceu os degraus, pulou lá de cima, caiu sobre um canteiro na beira da praia. Um búzio solitário, quebradiço. Saiu correndo pelo calçadão, os cabelos de sal ao vento, o coração no escuro. Notou com alívio, lá adiante, o pai que acenava e vinha, em passo acelerado, em sua direção. Depois...depois não viu mais nada: aquela água toda em seus olhos."
lindo, todo o livro em todas as linhas, escrita com as palavras perfeitas em seus lugares certos...
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.