quarta-feira, 27 de junho de 2012

Bonsai - Alejandro Zambra



" A primeira mentira que Julio contou a Emília foi que tinha lido Marcel Proust. Não costumava mentir sobre suas leituras, mas naquela segunda noite , quando os dois sabiam que alguma coisa estava começando entre eles , e que essa coisa , durasse o quanto durasse, ia ser importante , naquela noite Julio impostou a voz e fingiu intimidade , e disse que sim, que tinha lido Proust , aos dezessete anos, num verão, em Quintero. "



( mais uma descoberta maravilhosa! )

terça-feira, 26 de junho de 2012

Bom Dia Camaradas - Ondjaki



" Pela janela enorme entrava luz , entrava o som dos passarinhos , entrava o som da água a pingar no tanque, entrava o cheiro da manhã, entrava o barulho das botas dos guardas da casa ao lado, entrava o grito do gato porque ele ia lutar com outro gato, entrava o barulho da despensa a ser aberta pela minha mãe, entrava o som de uma buzina , entrava uma mosca gorda , entrava uma libélula que nós chamávamos de helibélula , entrava o barulho do gato que depois da luta saltava pro telheiro de zinco , entrava o som do guarda a pousar a aká porque ia se deitar , entravam assobios , entrava muita luz mas, acima de tudo, entrava o cheiro do abacateiro , o cheiro do abacateiro que estava a acordar."


( Ondjaki - o amor literário do ano. Lindo ! )

terça-feira, 5 de junho de 2012

Avó Dezanove e o segredo do soviético - Ondjaki




"Sentado na varanda, eu gostava de fazer essa brincadeira de primeiro olhar as nuvens brancas a dançarem no céu empurradas pelo vento, na escola sempre ensinaram que o vento é invisivel , e até é , mas, sem querer parecer maluco tipo o Espuma do Mar, ás vezes eu acho que, pelo modo de as nuvens voarem, quase fica possível ver de onde vem o vento e sobretudo para onde ele quer ir. O vento não deve gostar de andar sozinho, se repararem bem, porque sempre quer levantar poeira , dobrar as árvores , soprar as folhas e arrastar as nuvens para longe. O vento deve ter uma casa no tão-longe e está sempre a tentar levar as nuvens para a casa dele, mas isso é uma coisa que eu penso sozinho sem contar a ninguém, porque outras crianças podem me chamar de chanfru e os mais-velhos podem querer me dar remédios para ver se fico bom da cabeça."


"Fomos devagarinho em direção à casa do SenhorTuarles, pai da Charlita, meio a sorrir, o camarada VendedorDeGasolina fazia aquilo quase todas as manhãs, preparava uma vassoura própria ,calçava umas botas de borracha , desenrolava uma mangueira , abria a torneira e não havia água .

- Que estranho, não há água na torneira - e voltava a arrumar tudo devagarinho.

Estranhos são os mais-velhos que fazem as coisas repetidas todos os dias apesar de saberem que há coisas que não mudam. Há quantos anos não havia água naquela bomba de gasolina?"


( um dos livros mais lindos que já li. Daqueles de serem lidos e relidos pra mergulhar nas palavras  do personagem que narra a história. Lindo ! )

O Burrinho Pedrês - João Guimarães Rosa



"Galhudos, gaiolos , estrelos , espácios , combucos , cubetos, lobunos , lompardos , caldeiros , cambraias , chamurros , churriados , corombos , cornetos, bocalvos , borralhos , chumbados , chitados , vareiros, silveiros...E os tocos da testa do mocho macheado, e as armas antigas do boi cornalão..."



( tradução, priss!! )